Importância da antítese numa narrativa antiga



















A antítese facilita a compreensão e assimilação, principalmente num texto dualista, onde são abordados o “bem” e o “mal”, a “verdade” e a “mentira”.

Segundo o dicionário:

A antítese é a figura do oposto, de tudo aquilo que se contraria e que é inverso um do outro. É um recurso linguístico muito usado na fala e na escrita.

Esta figura de linguagem é mais comum em línguas como latim e grego, onde a aglutinação de palavras ajuda na comparação de características, fazendo sobressair a realidade.

Serve para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. É uma figura relacionada e muitas vezes confundida com o paradoxo.

Por exemplo, mesmo havendo a antítese entre Jesus Nazareno e João Batista (celibatário), muitos se recusam a enxergar a diferença entre ambos, devido às crenças religiosas herdadas:

Veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio. Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores. (Lucas 7:33-34)

Eu gosto de identificar a antítese e revelar o que a maioria se recusa a perceber, devido às crenças convenientes. Permita-me, por gentileza, fazer uma demonstração.

João Batista, devido a ter um pai sacerdote de Jerusalém, denominado Zacarias, foi enclausurado em um monastério desde a infância, no deserto, para estudar religião (Lucas 1:80). Coitado. Contudo, deram um jeito de enfeitar essa pobreza no Novo Testamento, como sendo algo útil, necessário e “divino”.

Jesus, que teve uma família mais humilde, estudava de maneira independente. Por exemplo, certa vez, também ainda em sua infância, sua família o perdeu de vista, durante três dias, porque ele estava estudando com os doutores da lei, ou os “especialistas” do Velho Testamento. Ele era livre e independente, desde criança. Não foi um escravo da religião moralista (Lucas 2:46).

Há quem acredite que ele já veio pronto, ou já nasceu sabendo tudo. Porém, consta que ele ouvia e interrogava os doutores da lei. Portanto, ele começou a estudar a Bíblia por opção, desde muito cedo, e só ficou pronto com aproximadamente 30 anos de idade, conforme está escrito.

João Batista não batizou Jesus nas águas do rio Jordão, porque não era necessário, e Jesus não tinha nada a ver com religião moralista. Inventaram.

Ambos nem se conheceram, embora fossem primos, porque foram criados distantes um do outro. Por exemplo, um pouco antes de morrer degolado na prisão, consta:

E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos a dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro? (Mateus 11:2-3)

Se estes versículos não estão contradizendo o que disseram antes sobre o suposto batismo de Jesus, então eu não sei o que é contradição.

Jesus, certa vez, fez uma observação interessante, a respeito da iniciação lenta e limitada da religião de doutrina rígida, de João Batista, após ele morrer degolado na prisão. Algo que muitos “entendem” como tendo sido um elogio. Por exemplo:

João Batista era a candeia que ardia e alumiava; e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz. (João 5:35)

Morrer degolado na prisão tem um significado simbólico, que significa transcender a prisão da mente dualista. A dualidade da mente-cérebro. É preciso transcender o conflito gerado pela contradição dos conceitos intelectuais opostos e abstratos.

Observe como Jesus era sábio e diferente dos religiosos daquela época, através de sua abordagem: “candeia que ardia e iluminava”, “vós quisestes”, “alegrar-vos por um pouco de tempo” (provisoriamente).

O que significa a palavra “candeia”, senão uma pequena luz, frágil, pálida (de pouco brilho)? Ou seja, a doutrina de João Batista era semelhante à visão moralista dos fariseus. Mesmo assim, ela arde e ilumina um pouco, devido ao calor devocional (paixão, fervor religioso).

Eu já passei por esta experiência religiosa, assim como Jesus também, embora muitos pensem que ele não era humano como nós. Por isso, sentem-se inferiores e complexados.

O filósofo Nietzsche disse que, sem esta experiência religiosa, não conseguimos alguma sabedoria diferenciada. Porém somente se formos além da religião, crenças, teorias, labirinto da mente dualista.

A mesma coisa acontece, com quem gosta e estuda a teoria da conspiração, o que não foi o meu caso. Há verdades e mentiras envolvidas, como na religião. Alguns poucos conseguem transcender e ir além.

É preciso ter amado a religião e a arte como a mãe e a nutriz — de outro modo não é possível se tornar sábio. Mas é preciso poder olhar além delas, crescer além delas; permanecendo sob o seu encanto não as compreendemos. (Nietzsche)

A pequena luz opcional a que Jesus se referiu, conforme consta em João 5:35, alegra provisoriamente aqueles que querem ou ainda apreciam, devido às suas necessidades, até haver a saturação. Cansar-se e mudar de estágio, de ideia. É assim que funciona, devido ao estado de inconsciência dos indivíduos.

Segundo consta, a missão de João Batista era preparar, facilitar o “caminho” do Messias. Mas a intenção e “esperteza” de seu pai sacerdote mudou, um pouco, o curso da história “negativamente” (relativamente).

Ou seja, João Batista não conseguiu ajudar, facilitando a compreensão a respeito da verdadeira Identidade do ser humano. Ele acabou servindo apenas de contraste entre um e o outro. Isso também ajuda, caso as pessoas percebam a diferença entre um e o outro. Do contrário, só confunde.